segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MULHER-MODELO



É Dia de Finados. Feriado nacional para se reverenciar a memórias de entes queridos, para alguns nem tão queridos como impõe essa gasta expressão que ainda figura nos necrológios e convites sonoros e escritos para velório e sepultamento. É Dia de Finados mesmo para a maioria que se diz crente na vida após a morte, assim, estar “finado” ganha outra conotação, somente final de vida física, além túmulo.
Mas não quero falar de mortos. Quero falar bem de vivos. De um especialmente que conheci neste ano, em plena campanha eleitoral. Alguém exuberante de vida, do sexo feminino, de sorriso e olhos brilhantes, que não vive num palácio, numa quase precária moradia à beira de um escuro córrego que circunda a área urbana de Piratini.
Querorepartir com vocês esta emoção que vivi nos últimos dias da campanha política quando conheci CECÍLIA DOMINGUES DOS SANTOS, uma senhora de rosto alegre, fala muito bem articulada, natural do 3º Distrito, lugar denominado “Costa do Bica”, que reside numa casa humilde no Bairro Vila Nova, em Piratini. Ela tem 94 anos de idade, 11 filhos, 80 netos e 44 bisnetos, faz chapéus de folhas de butiazeiros como esses que vesti para a fotografia. Foi parteira naqueles fundões de campo do 3º Distrito, tendo atendido 109 partos.
QUE DEUS ABENÇOE ESSA MULHER GUERREIRA, UMA VERDADEIRA LIÇÃO DE VIDA QUE TRANSPÕE O MOMENTO EFÊMERO DAS ELEIÇÕES.

Para quem esmorece por pouco, para quem quase desiste e fraqueja, Dona Cecília é estímulo concreto. Basta deslocarmos nossos sentimentos para seu universo, tentarmos nos colocar no lugar dela (o que é impossível, claro, mas é esforço proveitoso porque exercita a percepção da alteridade).
Uma outra Cecília, esta a Poeta Cecília Meireles () deixou lindos versos e pensamentos dos quais destaco este em homenagem a este Cecília mulher-modelo:
“Lambari é peixe grande em se tratando de JAIRO FERNANDES. Inigualável nas melodias doces, despojadas do excesso gauchesco que acaba por caricaturizar, não raras vezes, a produção musical do Rio Grande do Sul.
Eu o conheci por ocasião do 3º Manancial, uma oficina de criação lítero-musical que nasceu em Pelotas e itinerou por Capão do Leão e Piratini, onde ficou mais vezes até secar-se como acontecimento mas perenizar-se em nossas memórias – daqueles idos de 1990 até este Século XXI e nos trazer, dentre suas paisagens e cardumes, e dentro destas a imagem simples, alegre e emocionada de JAIRO LAMBARI FERNANDES.
Eu o conheci nessa edição do Manancial, a compor os versos de MADRUGADAS GAVIONAS com Cristiano Quevedo, e o percebi, pouco adiante, como versátil a interpretar toadas e milongas com carga poética bastante para alcançar corações de vastos e diferentes saberes.
Jairo Lambari é peixe grande não no sentido de devorar outros seres mas de fazer importantes marulhos, desaquietar águas de oceanos e rios e de zombar, com silêncio de peixe, do assassínio mascarado de esporte(-morte) dos pescadores.
JAiro JÁ é nome sólido na discografia de nossa música brasileira, além bombachas e alpargatas. O Padre Fábio de Melo é testemunha disso.
Estive com ele em comissões de jurados de festivais dos quais não fomos jurados de morte muito por sua conduta ética de escutar o público e harmonizar qualidade com popularidade.
É bom ser vegetariano e não devorar seres com boca e olhos, tais os lambaris, nem enganá-los com iscas para espetar anzóis em suas tenras gargantas. É bom viver neste tempo e ouvir, em meio a tanta sede de música boa, a canção molhada de JAIRO LAMBARI FERNANDES.

Por: Juarez M. Farias

Nenhum comentário: