É Dia de
Finados. Feriado nacional para se reverenciar a memórias de entes queridos,
para alguns nem tão queridos como impõe essa gasta expressão que ainda figura
nos necrológios e convites sonoros e escritos para velório e sepultamento. É
Dia de Finados mesmo para a maioria que se diz crente na vida após a morte,
assim, estar “finado” ganha outra conotação, somente final de vida física, além túmulo.
Mas não
quero falar de mortos. Quero falar bem de vivos. De um especialmente que
conheci neste ano, em plena campanha eleitoral. Alguém exuberante de vida, do
sexo feminino, de sorriso e olhos brilhantes, que não vive num palácio, numa
quase precária moradia à beira de um escuro córrego que circunda a área urbana
de Piratini.
Querorepartir
com vocês esta emoção que vivi nos últimos dias da campanha política quando
conheci CECÍLIA DOMINGUES DOS SANTOS, uma senhora de rosto alegre, fala muito
bem articulada, natural do 3º Distrito, lugar denominado “Costa do Bica”, que
reside numa casa humilde no Bairro Vila Nova, em Piratini. Ela tem 94 anos de
idade, 11 filhos, 80 netos e 44 bisnetos, faz chapéus de folhas de butiazeiros
como esses que vesti para a fotografia. Foi parteira naqueles fundões de campo
do 3º Distrito, tendo atendido 109 partos.
QUE DEUS
ABENÇOE ESSA MULHER GUERREIRA, UMA VERDADEIRA LIÇÃO DE VIDA QUE TRANSPÕE O
MOMENTO EFÊMERO DAS ELEIÇÕES.
Para quem
esmorece por pouco, para quem quase desiste e fraqueja, Dona Cecília é estímulo
concreto. Basta deslocarmos nossos sentimentos para seu universo, tentarmos nos
colocar no lugar dela (o que é impossível, claro, mas é esforço proveitoso
porque exercita a percepção da alteridade).
Uma outra
Cecília, esta a Poeta Cecília Meireles () deixou lindos versos e pensamentos
dos quais destaco este em homenagem a este Cecília mulher-modelo:
“Lambari é
peixe grande em se tratando de JAIRO FERNANDES. Inigualável nas melodias doces,
despojadas do excesso gauchesco que acaba por caricaturizar, não raras vezes, a
produção musical do Rio Grande do Sul.
Eu o conheci
por ocasião do 3º Manancial, uma oficina de criação lítero-musical que nasceu
em Pelotas e itinerou por Capão do Leão e Piratini, onde ficou mais vezes até
secar-se como acontecimento mas perenizar-se em nossas memórias – daqueles idos
de 1990 até este Século XXI e nos trazer, dentre suas paisagens e cardumes, e
dentro destas a imagem simples, alegre e emocionada de JAIRO LAMBARI FERNANDES.
Eu o conheci
nessa edição do Manancial, a compor os versos de MADRUGADAS GAVIONAS com
Cristiano Quevedo, e o percebi, pouco adiante, como versátil a interpretar
toadas e milongas com carga poética bastante para alcançar corações de vastos e
diferentes saberes.
Jairo
Lambari é peixe grande não no sentido de devorar outros seres mas de fazer
importantes marulhos, desaquietar águas de oceanos e rios e de zombar, com
silêncio de peixe, do assassínio mascarado de esporte(-morte) dos pescadores.
JAiro JÁ é
nome sólido na discografia de nossa música brasileira, além bombachas e
alpargatas. O Padre Fábio de Melo é testemunha disso.
Estive com
ele em comissões de jurados de festivais dos quais não fomos jurados de morte
muito por sua conduta ética de escutar o público e harmonizar qualidade com
popularidade.
É bom ser
vegetariano e não devorar seres com boca e olhos, tais os lambaris, nem enganá-los
com iscas para espetar anzóis em suas tenras gargantas. É bom viver neste tempo
e ouvir, em meio a tanta sede de música boa, a canção molhada de JAIRO LAMBARI
FERNANDES.
Por: Juarez M. Farias
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