Para
muita gente ser o primeiro a realizar alguma coisa é quase um objetivo de vida.
Outras pessoas, contudo, podem ter uma carreira brilhante assombrada por um
acontecimento que os tornou “o primeiro” em algo. Mary Ward foi uma dessas
pessoas. Uma mulher extraordinária que, em 1869, teve o azar de ser a primeira
pessoa morta por um carro.
Mary
Ward veio de uma família de cientistas muito respeitados – seu primo, William
Parsons, foi o homem que construiu o maior telescópio do mundo até 1917. Mary
era uma artista talentosa e tinha predileção pelo desenho de insetos, que eram
reproduzidos com tamanha atenção aos detalhes que ela chegava a usar uma lupa
para observá-los. Um astrônomo amigo de seu pai conheceu seu trabalho e o
convenceu de que ela precisaria de um microscópio. Seu pai comprou um a ela, e
enquanto seu primo observava a imensidão infinita através das lentes, Mary
voltava as suas a um mundo muito menor e finito.
Ela
adorou a microscopia, e fez suas próprias lâminas de marfim. Como a maioria das
universidades da época não aceitava mulheres, ela escrevia diretamente aos
cientistas e acabou tornando-se a única mulher na lista de correspondência da
Royal Astronomical Society. Ao ver a necessidade de uma publicação bem
ilustrada sobre microscopia, ela escreveu e ilustrou o seu próprio livro,
publicando as primeiras 250 cópias por conta própria. Depois de vender toda a
tiragem, uma editora de Londres publicou o livro, editado até 1880.
Vamos
parar por um instante para entender melhor essa história. As universidades não
aceitavam mulheres na época. Tudo o que ela aprendeu, foi por conta própria ou
por correspondência com os próprios cientistas. Ela publicou um livro por conta
própria por que não tinha formação e era uma mulher – duas faltas graves para a
comunidade acadêmica da época. Essa mulher sabia muito sobre ciência, mas
aparentemente não sabia o que significa “parar”.
Vindo
de uma família de cientistas não surpreende que seus primos de segundo grau
eram inventores, e haviam construído um automóvel a vapor bastante primitivo,
por isso não surpreende que ela embarcou com os Parson para um passeio no carro
a vapor.
Os
carros a vapor daquela época eram rudimentares, pesados (mais de 14 toneladas)
e desajeitados, especialmente um feito em casa, como o que os Parsons haviam
construído. Durante a viagem, consta que em uma curva mais rápida, Mary foi
jogada para fora do carro e acabou sob suas rodas. Suas pesadas rodas de ferro.
Mary
morreu na hora ao quebrar o pescoço. Apesar de alguém ter que ser o primeiro,
foi lamentável que tenha sido alguém tão especial, que deveria ser lembrada por
sua arte e ciência, mas que infelizmente agora é lembrada apenas como a
primeira vítima a morrer em um acidente de carro.
Crédito
das imagens: Wikipedia, Irish Scientists, Ladies In Laboratory (livro), Cabinet
Magazine
Fonte:
Rogerio S Lucas.
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